segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sagrado e Maldito



Desde pequena eu fui apaixonada por artes. Músicas, danças, filmes, peças de teatros, livros, sempre foram minha paixão. Muito pequena eu descobri o que seria minha paixão eterna: a DANÇA. Comecei aos 06 anos e soube que era aquilo que eu queria fazer para o resto da vida. Fiz ballet, jazz, street dance, dança de salão, dança teatro e, graças a dança teatro, fiz canto também. Trabalhei para uma grande coreógrafa, Fernanda Chamma, na academia Bio Ritmo. Fiz apresentações em teatros, em shoppings, dei aulas. Músicas, danças, fantasias, coreografias, sapatilhas, maquiagens, tudo isso foi uma doce realidade por 12 anos e era isso que eu queria para o meu futuro, era isso minha vida. Problemas alimentares me afastaram por um tempo da dança, só que era passageiro, era rapidinho. Um acidente, um joelho direito estragado, me afastou para sempre dessa vida. A vida que eu queria para mim.

Fiquei sem chão, fiquei desorientada, porque eu só sabia que queria dançar, faria faculdade de dança e era isso. Eu não tinha mais a opção do curso que queria, não tinha mais o palco, não tinha mais nada. Passei por administração, veterinária e agora, direito. De coração, nada que eu queria.
Fui cuidar da vida, fazer faculdade, arrumei namorado, fiz inglês, fiz espanhol, virei protetora de animais e arrumei um punhado de cachorros, isso me fazia bem, alegrava o coração, só que aquela felicidade total, que completa e aquece, eu não sentia mais, sempre aquele vazio no coração, falta alguma coisa, falta alguma coisa, faço isso, faço aquilo, ainda falta alguma coisa.
O palco é sagrado e maldito.
Sagrado porque é belo, é lindo, é atraente. Quando você descobre essa magia, não quer outra coisa para vida. A beleza das fantasias, a magia das luzes, o cheiro da madeira do palco, das cortinas. As luzes dos camarins, a ansiedade e a felicidade de estar alí, na coxia, esperando aquele momento mágico de estar em contato com o público. Seu instrumento de trabalho é o corpo, a voz, os movimentos, tudo muito bem ensaiado, muito preparado, para em poucas horas, passar magia e alegria para quem assiste e aí, vem a recompensa, o melhor pagamento de todo o mundo, o reconhecimento do público, o sorriso de quem assistiu e os aplausos. Não existe nada melhor do que isso.
Maldito porque quando isso é tirado de você, sua felicidade vai embora. Quem passou por isso, sabe do que estou falando.

Esse vazio foi apertando e doendo e até que não aguentei mais e resolvi achar um meio termo, já que dançar eu não posso por causa do joelho. Voltei a fazer teatro, havia começado e largado e agora resolvi voltar. Foi o melhor presente que me dei esse ano. Conheci pessoas maravilhosas, as professoras são ótimas e eu voltei para o palco de madeira, as cortinas longas de cetim e veludo, a magia do espelho e do corpo. E a alegria, a felecidade está voltando, saiu de lá feliz, alegre e contente. Não é a mesma coisa, a dança me completava, só que teatro é mágico, é lindo e é gostoso. Vou continuar, vou procurar a felicidade que eu perdi. Voltar para o sagrado e maldito, porque é isso que eu sei fazer é isso que eu gosto de fazer.